Fibromialgia desafia medicina e afeta milhões em silêncio no Brasil

Fibromialgia
Doença sem cura exige diagnóstico clínico preciso

Silenciosa, persistente e muitas vezes invisível, a fibromialgia se impõe como um desafio à medicina contemporânea. A síndrome, que provoca dores generalizadas, fadiga e distúrbios do sono, afeta cerca de 3% da população brasileira — em sua maioria, mulheres entre 30 e 50 anos — e ainda é cercada por desinformação, preconceito e diagnósticos tardios.

Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a doença atinge cerca de 4 milhões de pessoas no Brasil, embora muitos casos permaneçam subnotificados. O Ministério da Saúde reconhece a fibromialgia como uma condição crônica que requer acompanhamento contínuo e tratamento individualizado. Apesar disso, até 90% dos pacientes não têm o diagnóstico confirmado.

“A fibromialgia é uma síndrome que provoca dores musculares generalizadas, fadiga, distúrbios do sono e alterações de humor. Muitas vezes, a pessoa sente dores sem causa aparente, e isso impacta diretamente na qualidade de vida”, explica a reumatologista Carla Baleeiro, coordenadora do Serviço de Reumatologia do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS).

A ausência de exames específicos agrava o quadro. O diagnóstico é clínico, feito a partir dos sintomas descritos pelo paciente e da exclusão de outras enfermidades. “Não há um exame laboratorial que comprove a doença. Por isso, a escuta atenta e qualificada do profissional de saúde é fundamental”, afirma Baleeiro.

Diagnóstico baseado em critérios internacionais - Segundo diretrizes do American College of Rheumatology, o diagnóstico clínico da fibromialgia deve considerar a presença de dor difusa por mais de três meses, distribuída em ambos os lados do corpo, acima e abaixo da cintura. Dois instrumentos complementam a avaliação: o Índice de Dor Generalizada, que contabiliza em quantas regiões do corpo há dor, e a Escala de Gravidade dos Sintomas, que mede a intensidade da fadiga, a qualidade do sono, problemas de memória e alterações de humor. Exames laboratoriais ou de imagem não confirmam a fibromialgia, mas podem ser solicitados para excluir doenças como lúpus, hipotireoidismo, artrite reumatoide ou deficiências vitamínicas.

Tratamento multidisciplinar é a chave - Embora não exista cura, é possível controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O tratamento da fibromialgia é multidisciplinar, individualizado e contínuo. Segundo Baleeiro, o foco é o controle da dor, a melhora do sono, do humor e da funcionalidade. “Compreender a doença é o primeiro passo: a educação do paciente reduz a ansiedade, evita terapias ineficazes e melhora a adesão às estratégias terapêuticas”, afirma.

A prática de exercícios físicos leves ou moderados, como caminhada, hidroginástica, bicicleta, alongamento e fortalecimento muscular, tem efeito comprovado na redução da dor e da fadiga, além de contribuir para o bem-estar geral. O tratamento medicamentoso é reservado para casos em que os sintomas estão mais intensos e inclui, geralmente, antidepressivos ou moduladores centrais da dor. O objetivo é melhorar não apenas a dor, mas também o sono e o estado emocional.

As terapias complementares e o suporte psicológico também ocupam lugar de destaque no plano de cuidados. Técnicas como a terapia cognitivo-comportamental, meditação, fisioterapia, yoga e acupuntura demonstram benefícios significativos na qualidade de vida de quem convive com a síndrome. Manter hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada, boa higiene do sono e estratégias de enfrentamento do estresse, também é essencial para o sucesso do tratamento.

Para Baleeiro, o acolhimento tem papel terapêutico. “Um ponto importante é que a pessoa com fibromialgia não está inventando a dor. É uma dor real, embora não apareça em exames. O apoio da família, dos amigos e da equipe médica faz toda a diferença”, ressalta.

Invisível, mas incapacitante - Além da dor, os sintomas mais comuns incluem fadiga intensa, distúrbios do sono, dificuldades cognitivas (conhecidas como fibro fog) e alterações de humor. A fibromialgia é uma das principais causas de afastamento do trabalho e redução da produtividade, conforme dados da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).

Por ser uma condição que não deixa marcas visíveis nem alterações em exames, muitas pessoas convivem com o estigma da incredulidade. “É preciso combater o preconceito e promover informação de qualidade. Fibromialgia é real e merece cuidado sério”, conclui Baleeiro.

Assessoria de Imprensa:
Cinthya Brandão - Carla Santana